Bom pra cachorro? Óleo de cannabis pode servir no tratamento de alergias em pets, aponta pesquisa pioneira na UFSM 

Mirella Joels

Bom pra cachorro? Óleo de cannabis pode servir no tratamento de alergias em pets, aponta pesquisa pioneira na UFSM 
Coceira, vermelhidão na pele, infecções e outras feridas eram uma constante na vida de Stive, um cachorrinho de 11 anos, da raça shih-tzu, que convive desde os 6 meses de vida com a dermatite atópica, uma doença crônica que talvez você já tenha ouvido falar, afinal, ela é comum tanto em pets, quanto seres humanos. Apesar de sempre ter sido um bichinho cheio de energia e brincalhão, Stive sofria tanto com a dermatite, que atividades que deveriam ser comuns, como comer e dormir, estavam quase sempre sendo interrompidas por crises de coceira.

Preocupada com o estado de saúde de cachorrinho e em busca de tratamento eficaz, a tutora Paola Pereira Gomes encontrou amparo na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em um período em que a Hospital Veterinário Universitário (HVU) buscava pets com a enfermidade de Stive para participar de um estudo com uma nova opção terapêutica: o óleo de cannabis. 

A pesquisa é pioneira na área de pets e fez parte do estudo da mestranda Carollina Mariga, graduada no curso de Medicina Veterinária. Conforme a pesquisadora, apesar do potencial terapêutico da cannabis já ser estudado para tratar outras doenças, dificilmente essas pesquisas são direcionadas para pets. 

Para a mestranda, que teve motivos pessoais para estudar o tema, o pioneirismo da temática é motivo de orgulho, principalmente por já ter se mostrado positivo em alguns casos, como o do próprio Stive:

– A ideia surgiu em 2018. Infelizmente, eu tinha um animal muito doente e o óleo de cannabis era uma opção de tratamento, mas a gente não tinha quem nos orientasse. Então surgiu a vontade de seguir essa linha de pesquisa. Eu lancei a ideia para o meu orientador, que aceitou, graças a Deus, e a gente está aqui lutando contra a burocracia e o preconceito para que outros tutores possam ter a oportunidade de dar esse tratamento para os seus animais – relata.

O paciente Stive na companhia da tutora Paola Pereira Gomes e do elefantinho de pelúcia que adora levar para as consultas. Foto: Eduardo Ramos

O antes e depois do “óleo de cannabis” para Stive

A peregrinação por um tratamento certeiro para Stive começou quando a tutora Paola descobriu, aos 6 meses de vida do bichinho, que ele tinha dermatite atópica. O bichinho esteve em vários veterinários e fez tratamento com diversos medicamentos. Segundo a tutora, ele chegou a fazer exame na pele para ver se ele tinha alguma alergia específica, mas nada ficou definido nem com o teste alérgico, nem com as medicações:– Nada resolvia. Os sintomas até amenizavam enquanto ele tomava a medicação, mas quando encerrava, voltava tudo de novo. Foi ficando cada vez mais grave e chegou um período que ele tomava medicação constantemente. O valor do remédio era exorbitante. Ele tomou os mais variados corticoides e a gente trocou várias vezes de shampoo. No início funcionava, mas logo voltava – relata.

De acordo com a médica veterinária Carollina, a melhora inicial decorrente do uso do corticoide – remédio muito utilizado para o tratamento de dermatites –, pode iludir os tutores e fazer com que eles deem a medicação de forma contínua para os bichinhos, principalmente por não precisar de receita. Infelizmente, o uso contínuo sem acompanhamento médico pode desencadear outros problemas no organismo– Não recomendamos dar corticoide sempre que o animal estiver se coçando. Resolve? Resolve. Mas dá problemas muito maiores – enfatiza.

Com orientação de Carollina, a tutora de Stive apostou no tratamento para o pet com o óleo de cannabis. Foram mais de 120 dias utilizando o medicamento e acertando as dosagens. Para Paola, a melhora é evidente:– Eu nunca vi ele tão bem antes. Ele tem uma qualidade de vida melhor na hora de se alimentar e dormir. Ele não tinha sono contínuo antes, acordava e passava a noite com coceira, lambendo as patas. Gerava até lesão e sangramento. Hoje ele está bem melhor – celebra.

No caso de Stive, ele se adaptou bem ao uso do óleo. Paola coloca as gotinhas correspondentes ao receituário na mão e ele lambe prontamente. Inclusive, a veterinária enfatiza que, para um tratamento mais eficaz, uma combinação de fatores é necessária:– Depende do veterinário que prescreve o óleo, da dedicação do tutor, da individualidade do animal, porque cada um tem a sua própria resposta a essa terapia.

A médica veterinária e pesquisadora Carollina Mariga no Hospital Veterinário Universitário (HVU). Foto: Eduardo Ramos

Pioneirismo na área

A pesquisa ainda não teve os resultados amplamente divulgados porque a pesquisadora pretende publicar a dissertação em uma revista científica em primeira mão. Mas Carollina adianta que vai seguir estudando os efeitos terapêuticos do óleo de cannabis também no doutorado e ainda comenta como pretende combater o preconceito acerca das pesquisas com canabidiol:– Temos que mostrar cientificamente os casos e passar conhecimento adiante para que as pessoas consigam ver as potencialidades da terapia, e que cada caso tem suas particularidades. Nós vamos na individualidade de cada caso, de cada animal, e isso quebra um pouquinho a medicina no estilo “receita de bolo”. Além de trazer mais pesquisa e mais conhecimento, estamos tentando reaproximar a relação entre o paciente e o veterinário.

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